Escolher um método contraceptivo é uma decisão importante que envolve aspectos da saúde física e mental, estilo de vida, identidade de gênero, objetivos reprodutivos e preferências individuais.
Este artigo foi pensado para orientar tanto mulheres cis quanto pessoas transmasculinas que menstruam ou podem engravidar, ajudando na escolha mais consciente, segura e adequada às necessidades específicas de cada um.
Entendendo a Função dos Contraceptivos
Os métodos contraceptivos têm como principal objetivo prevenir a gravidez, mas muitos deles também oferecem benefícios adicionais, como o controle de sintomas hormonais, a regulação do ciclo menstrual e o tratamento de condições de saúde como ovários policísticos, endometriose e acne hormonal. Os métodos podem ser classificados em:
- Métodos hormonais: incluem a pílula anticoncepcional, injeção, adesivo, implante subcutâneo e anel vaginal. Esses métodos liberam hormônios sintéticos (estrogênio e/ou progesterona) que impedem a ovulação.
- Métodos de barreira: como a camisinha externa (masculina) e interna (feminina), que impedem o contato entre o espermatozoide e o óvulo.
- Dispositivos intrauterinos (DIU): tanto o DIU hormonal quanto o DIU de cobre são inseridos no útero e têm alta eficácia por longos períodos.
- Métodos permanentes: como a laqueadura (ligadura das trompas) e a vasectomia. São indicados para pessoas que têm certeza de que não desejam ter filhos no futuro.
Fatores a Considerar na Escolha
1. Identidade de Gênero e Terapia de Hormonização
Pessoas transmasculinas que fazem uso de testosterona podem apresentar interrupção da menstruação e diminuição da ovulação, mas ainda assim há risco de gravidez se o útero e os ovários ainda estiverem presentes.
A testosterona não é um método contraceptivo. Nesses casos, deve-se buscar métodos que sejam compatíveis com a terapia hormonal e com o conforto da pessoa em relação ao próprio corpo e procedimentos médicos, como os métodos não hormonais ou os que utilizam apenas progesterona (sem estrogênio).
2. Estilo de Vida e Rotina
Métodos como a pílula exigem disciplina para tomar todos os dias no mesmo horário, o que pode não ser viável para quem tem uma rotina agitada ou imprevisível.
Já métodos de longa duração, como o implante ou o DIU, oferecem proteção por anos e demandam pouca ou nenhuma manutenção, sendo mais práticos para muitas pessoas.
3. Reversibilidade e Planos Reprodutivos
É importante pensar no futuro. Pessoas que desejam engravidar em algum momento devem optar por métodos reversíveis.
Já aquelas que têm certeza de que não querem ter filhos podem considerar métodos permanentes, desde que haja orientação adequada e reflexão sobre a decisão.
4. Condições de Saúde e Histórico Familiar
Doenças como hipertensão, diabetes, enxaqueca com aura, histórico familiar de trombose ou câncer de mama são fatores que podem contraindicar o uso de contraceptivos hormonais combinados (estrogênio + progesterona).
Além disso, o tabagismo, especialmente em pessoas com mais de 35 anos, também aumenta o risco de complicações cardiovasculares. Por isso, é fundamental um acompanhamento médico personalizado para definir o melhor contraceptivo.
5. Proteção Contra ISTs
Vale lembrar que apenas os métodos de barreira — as camisinhas — oferecem proteção contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Mesmo utilizando outro método para evitar a gravidez, o uso da camisinha é altamente recomendado, especialmente em relações casuais ou quando não há certeza sobre o histórico de saúde sexual da outra pessoa.
Métodos e Suas Características Principais
Método | Vantagens | Desvantagens |
Pílula anticoncepcional | Fácil acesso, controle do ciclo, reduz cólicas | Exige disciplina, risco de esquecer |
Implante | Duração de até 3 anos, discreto | Pode causar sangramentos irregulares |
DIU de cobre | Não hormonal, dura até 10 anos | Pode aumentar o fluxo menstrual |
DIU hormonal | Reduz ou suspende a menstruação, melhora cólicas. | Pode causar efeitos colaterais como aumento de oleosidade na pele e acne. |
Camisinha | Protege contra ISTs, fácil acesso | Em raros casos, pode romper ou causar alergias |
Injeção | Aplicação mensal ou trimestral | Pode atrasar retorno da fertilidade após uso |
Anel vaginal | Troca mensal, discreto | Pode ser desconfortável para algumas pessoas |
Tabelinha / coito interrompido | Sem uso de hormônios | Alta taxa de falha, exige disciplina e ciclos altamente regulares |
Laqueadura / vasectomia | Permanente, não requer manutenção | Irreversível (na maioria dos casos) |
Conversando com um Profissional de Saúde
Nenhum método é universalmente “melhor”. O ideal para uma pessoa pode não ser o ideal para outra. Por isso, converse com um profissional da saúde, como ginecologista ou médico de família.
Esse profissional poderá analisar suas condições de saúde, seus desejos e estilo de vida, propondo as melhores opções. Além disso, poderá tirar dúvidas e acompanhar a adaptação ao método escolhido, fazendo os ajustes necessários se surgirem efeitos colaterais.
Já Começou seu Planejamento Familiar?
A escolha do método contraceptivo é parte fundamental do cuidado com a saúde reprodutiva e deve ser feita com informação, autonomia e apoio.
Leve em conta sua identidade, seu corpo, seus planos e sua rotina. Converse com profissionais qualificados e, sempre que possível, envolva parceiros(as) de forma respeitosa na decisão.
Lembre-se: mesmo quando a gravidez não é um risco, o cuidado com a saúde sexual continua importante.